quarta-feira, 24 de março de 2010

O Recomeço

Depois de algum (muito) tempo sem postar nada aqui eu volto a escrever.

Como já dito no início esse blog se faz através do processo de criação de um roteiro de longa -metragem. Se o processo de criação do roteiro para o Blog para junto.

Nos últimos tempos estava me dedicando ao projeto que mandei para o Edital de Desenvolvimento de Roteiro do Minc. O que me tirou muito tempo.

Porém a elaboração do projeto me fez avançar na construção do roteiro do qual eu relato o processo aqui.

Assim que nas proximas semana vou escrever sobre o processo de criação e melhoria da estrutura de um roteiro, coisa que vim fazendo a algun tempo.

Essa pausa foi um divisor do trabalho. Até esse momento escrevia sobre a idéia, a criação dos personagens, o conhecer do mundo onde a estória se passa. Tudo isso serve como base para o que vou escrever agora. O momento em que uma estória cria corpo e vira roteiro.

Abraço a todos que ainda seguem o blog.

Todo Roteirista



O que todo roteirista deve ser:


  • - Meio Louco
  • - Meio Escritor
  • - Meio Triste
  • - Meio Curioso
  • - Meio Deigner
  • - Meio Bloguero
  • - Meio Dramático
  • - Meio Lunático
  • - Meio Careca
  • - Meio Adolescente
  • - Meio Atrapalhado
  • - Meio Cafona
  • - Meio Comédia
  • - Meio Escondido
  • - Meio Preguiçoso
  • - Meio Organizado
  • - Meio Estudioso
  • - Meio Inteligente
  • - Meio Músico
  • - Meio Prolixo
  • - Meio Calado
  • - Meio Angustiado
  • - Meio Tarado
  • - Meio Capaz
  • - Meio Talentoso
  • - Meio Procrastinador
  • - Meio Cinéfilo
  • - Meio Crítico
  • - Meio Auto-Crítico
  • - Meio Disléxico

E mesmo em meio de tantos meios, nunca estar inteiro, completo, é o que faz um roteirista seguir em frente, buscando sempre em meio a seus papéis, personagens, canetas sem tinta, noites em frente ao computador o meio que lhe falta.



sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Conhecendo os Personagens


Dentro da estória sem duvida os personagens necessitam de uma atenção mais que especial. No momento em que a estória é criada, eles passam a existir, mas a maioria das vezes eles são rasos, disformes, desinteressantes, previsíveis e que simplesmente flutuam na narrativa sendo levando como um pedaço de madeira na correnteza.

Porém uma boa estória só pode ser contada pela voz dos próprios personagens, eles são os agentes, a estória deve acontecer por suas ações, são olhos e ouvidos do espectador, é através deles que vemos o que acontece. O personagem deve despertar o interesse do espectador e criar com ele empatia.

Para que isso aconteça ele deve ser o mais humano possível, deve parecer com qualquer um, eu, você, todos nós, deve ser um ser único, mas em sua essência ele deve ter características universalmente humanas.

Mas primeiro é preciso saber como que ele é, quais as características físicas, psicológicas e sociais desse personagem.

Quando pensamos nas características físicas do personagem muitas vezes nos perguntamos: Por que criar características físicas? Não seria melhor deixar isso em aberto para que qualquer ator possa interpretá-lo? De certa forma isso deve ser levado em consideração, impor ao personagem características extremamente rígidas pode dificultar quando do casting, porém certos aspectos físicos devem ser criados. Idade por exemplo é imprescindível, etnia, tipo de roupas que usa, comprimento dos cabelos, na verdade toda a característica que o diferencie e exponha sua condição social deve ser colocada.

Todos vivemos dentro de um grupo específico da sociedade, com o personagens não pode ser diferente, o grupo, a tribo de cada um é parte integrante do que somos, o ser humano é extremamente influenciável pelas pessoas com que convive. Estabelecer o grupo de convívio do personagem transmite informações de classe social, trabalho, dinheiro e etc. Também deve ser levado em consideração a especificidade do tempo e local em que o personagem vive. Por exemplo, um jovem alto, magro, com seus 20 anos, judeu, filho de um dono de loja, não é o mesmo personagem se ele mora no Brasil dos anos 80 ou na Polônia dos anos 40. O local e a época em que o personagem está estabelece diferenças no seu comportamento.

É também necessário conhecer psicologicamente o personagem, conhecer seu caráter, seu comportamento, seus desvios de comportamento, saber os seus sonhos, seus desejos e tudo que não podemos ver, mas que o diferencia dos outros.

Para melhor conhecer o seu personagem é necessário um processo de pesquisa. Basicamente a pesquisa se divide em duas partes: Pesquisa de vivência, que é a que todos nós fazemos, na nossa vida estamos realizando constantemente uma pesquisa, observamos as pessoas, o modo como falam, como agem, como andam. Conhecemos pessoas que são o molde das nossas personagens, amigos falastrões, amigos tímidos, nerds, roqueiros... Durante nossa passagem pelo mundo conhecemos figuras e observando as pessoas, aprendemos a ver como elas são e colocar essas características em nossos personagens.

Porém muitas vezes apenas nosso conhecimento de vida não é suficiente e uma pesquisa especifica é necessária. Como escrever a estória de um escravo, no Maranhão do século XVII, se você mora em Curitiba nos dias atuais, para isso é preciso saber seus costumes, como falavam, como se vestiam. Infelizmente no Brasil é raro que um escritor possa fazer sua pesquisa especifica em campo, ir até o local, conversar e ver as pessoas que vivem lá, ouvir sua história. Assim a pesquisa normalmente é feita através de literatura, livros, tanto históricos que abordem os costumes da época, quanto livros de ficção escritos na época e local que ajuda a conhecer os modos tanto de falar como de agir desses personagens e que podem e devem ser integrados aos seus.

Criar um personagem é como esculpir em um pedaço de madeira, atribuímos a ele a forma que desejamos, mas devemos respeitar os nós já existem na madeira. Não podemos forçar características que se contraponham e essência do personagem. Como nós o personagem possui um número de característica que o diferencia dos outros, e que nos tornam o que somos e que nos fazem tomar as atitudes que tomamos durante a vida, que nos fazem ter ações que são previsíveis a quem nos cerca, é o famoso conhecer a pessoa. Porém o personagem não é simples e a ele deve ser atribuído paradoxos, o que dá profundidade ao personagem. Esperamos que os personagens sejam previsíveis, pois queremos conhecê-los e só assim podemos criar empatia com eles, mas também é necessário que ele nos surpreenda vez em quando, para que nossa vontade de continuar conhecendo eles nunca pare.

Assim o personagem deve possuir um corpo, devemos saber como ele é, uma essência, devemos saber quem ele é, e uma mente, devemos saber como ele pensa, o que ele sente qual seu desejo.

É necessário atribuir ao personagem sentimentos, isso o aproxima ainda mais do ser humano. Sentimentos são parte integrante do personagem, eles devem ser claros e concisos com a sua essência. Também é necessário acrescentar valore e atitudes aumentando ainda mais a complexidade do personagem.

Muitas vezes quando começamos a acrescentar várias características aos nossos personagens perdemos o controle sobre eles, eles se tornam complexos e nem o seu próprio criador sabe por que ele toma certas atitudes durante a estória. Mas ter o total controle sobre o personagem é indispensável então as vezes é necessário parar e voltar atrás e tentar compreender o personagem. Fazer quase uma terapia. Para mim a melhor maneira de se conhecer o personagem e conhecendo sua história de vida. Criar o backstory do personagem é a melhor forma de compreendê-lo saber pelo que ele passou e o que o fez ser como é.

O backstory é um documento que serve como base para o roteirista, normalmente é de escrita livre e intuitiva, não é o momento em se preocupar com forma ou qualidade de texto, pode ser contado em primeira pessoa, em terceira ou misturando, deve ser de uso exclusivo do roteirista só ele precisa ler o que está escrito ali. O backstory também pode ser o momento para se encontrar a voz do personagem, descobrir como ele fala, ele deve ser rico em sentimentos, é mais importante saber o que o personagem sentiu com a morte de seu pai, por exemplo, do que como ele morreu. Porém muitas vezes a estória que contamos é linda e fascinante, a vida do personagem é tão rica que daria um novo roteiro, isso pode ser arriscado, por isso é necessário se ter em mente, que estória se está contando e colocar no roteiro apenas o que possa enriquecer a narrativa e não desviá-la.

Conhecendo bem os personagens temos maior liberdade para criar nossas estórias da forma que mais nos interessar. Afinal quem é mais importante, a estória ou os personagens? Segundo Robert Mckee, os dois são igualmente importantes, um não existe sem o outro, só com a ação do personagem é que a estória pode ir para frente, mas sem uma estória para contar os personagens não tem motivo para existir.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Conhecendo Um Novo Mundo

Quando se tem uma Estória para contar um novo mundo surge em algum lugar. Um lugar etéreo o qual sua existência depende da imaginação de quem o cria.

Mas apesar desse mundo existir apenas pela imaginação e o autor ter total controles sobre esse mundo é necessário conhecer-lo a fundo o que muitas vezes é um processo difícil e doloroso. É preciso saber as regras que regem esse mundo, como ele é, como é o tempo que age sobre ele, conhecer seus lugares, até onde ele vai, onde ficam suas paredes, quais são as paredes pelas quais podemos passar, quais são intransponíveis, até onde podemos ir. Conhecer seus moradores, nossos personagens, quem são, como são o que fazem para viver, quais suas necessidades, seus desejos, motivos e razões, como são suas vozes.

Conhecer esse mundo é essencial, demanda tempo e trabalho. Outro problema é que não existe um método que possa ser seguido. Dependendo do trabalho as abordagens são diferentes. Em alguns trabalhos é necessário se conhecer primeiro os personagens, saber de sua história de vida, o que gosta de fazer, onde trabalho, quanto dinheiro ganha por mês, se já amou alguém se já foi traído ou traiu. Em outros trabalhos é mais conveniente primeiro estabelecer a relação entre personagens rasos e a partir do drama os personagens ganham forma. Em alguns trabalhos é necessário ter em primeiro lugar o mundo físico onde os personagens vão viver seu drama, normalmente existe essas necessidades em filmes onde o cenário é mais um personagem dentro do filme.

O processo de descoberta desse mundo acontece de várias formas, o papel e a caneta são sempre os grandes aliados, escrever o maior número de informações possível é a primeira coisa a se fazer. Muitas vezes é é preciso escrever uma enorme quantidade de informação mesmo que nenhuma dessas palavras aparece realmente no roteiro final, essas informações são a base de sustentação para o roteiro.

Muitas pessoas acreditam que o trabalho do escritor é um trabalho solitário. De certa é verdade, principalmente no Brasil, o ato de escrever normalmente é feito por apenas uma pessoa, que cria a estória e a escreve. Mas principalmente o escritor é solitário em sua responsabilidade com as decisões dentro da estória, ele é o único que tem o poder de agir sobre os personagens e suas ações.

Porém o processo de descoberta desse novo mundo não é algo que se deve fazer sozinho. Contar a estória é a forma mais útil para se conhecer o novo mundo. Emprestar os ouvidos de alguém é uma forma de você conhecer a própria estória, as várias vezes que se conta a estória para alguém é uma nova versão e assim as regras do mundo tomam forma. Além disso contar com alguém que te ouça é uma forma de ter um feedback imediato, o que abre questões que devem ser respondidas. A pessoa que te ouve deve servir como advogado do diabo, criando perguntas e questão que vão direcionar a estória.

Esse novo mundo, por ser um mundo ficcional primeiramente parece que se tem total liberdade de criação dentro dele. Porém é indispensável a criação de regras e barreiras para contar sua estória. Robert Mckee chama de Limitação Criativa. Ele cita as convenções de gênero como barreiras que devemos respeitar e pensar para fugir de um clichê.

“O evento garoto encontra garota em uma Estória de Amor não é um clichê, mas um elemento necessario da forma – uma convenção. O clichê é quando os dois se encontram da maneira que os amantes sempre se encontram e estórias de amor... “(Mckee, Story, pg96)

Porém não é meu intuito falar de gênero no momento mas sim da limitação criativa em si.

Fazer cinema no Brasil é uma enorme lista de restrições. Quando criamos uma estória em nossa cabeça temos a liberdade total, porém quando o roteiro passa por uma análise e se faz um orçamento, nunca se tem todo o dinheiro que se gostaria, então começa-se a cortar o roteiro.


Por isso é muito interessante utilizar da ideia de limitação criativa, que é a busca de uma nova forma de se contar algo quando estamos cercados por barreiras. Essas barreiras no Brasil a grande maioria das vezes são financeiras.

Por isso a necessidade criar estórias que possam ser contadas com número reduzido de cenários, poucos atores e que respeitem as possibilidades de produção de cinema no Brasil. A produção de filme de baixo orçamento ainda é a melhor saída tanto para produtores que estão começando, quanto para grandes produtoras, que tem que ter um ritmo de produção de pouco custo e maior retorno possível.

Foi com essa visão que crie o roteiro desaparecidos no silêncio. Como contar uma estória da forma mais barata possível? Assim restringindo a uma locação, um pequeno número de personagens. Mas isso cria grandes barreiras que só podem ser quebradas com criatividade. Fugir da saída fácil abre novas linhas que devem ser levadas em consideração, não importa quão estapafúrdia for a ideia ela deve ser anotada e levada em consideração.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Enfrentando a folha em branco


Primeiro quero agradecer a todos que visitaram o blog. Como vocês puderam notar o layout do blog mudou um pouco e pode-se dizer influenciado pelo blog do João Nunes, no qual eu li um texto muito bom sobre os primeiros roteiros, basicamente ele fala sobre que devemos expurgar de nós os nossos primeiros trabalhos para que possamos escrever bons roteiros no futuro. Isso também me lembrou de uma grande lição que tive com o professor Paulo Munhoz, que disse em uma de suas aulas de animação, “um desenhistas deve gastar mais de 1000 desenhos ruins para começar a desenhar bem”, na verdade era a citação de alguém, mas não lembro quem.


Assim é como me sinto, como uma criança aprendendo a escrever, repetindo incessantemente a mesma palavra para descobrir a sua sílaba tônica, quando usamos vírgula e quando usamos ponto, relembrando a todo o momento as regrinhas para acentuar corretamente as palavras.

Um segundo texto do blog do João Nunes fala sobre o primeiro tratamento do roteiro, ou o que chamam de “vomit draft” onde se deve deixar a criança interior de cada um falar, sem se preocupar com nada, pois esse momento é apenas do escritor e com certeza não importa os caminhos que essa criança tome algo vai se aproveitar.


E é por ai que eu vou começar hoje.


O maior terror de qualquer escritor é sem duvida encarar o papel em branco, a sua cabeça está cheia, a idéia que pulsa na sua cabeça, mas como passar essa idéia para o papel. São cenas, diálogos, personagens, ações, tudo vindo de uma vez.


Muitas pessoas começam com página 1 cena 1, INT. CASA – DIA. E assim seguem por 10, 20 páginas até exaustos pararem de escrever, relerem o que fizeram e perceber que nada faz muito sentido, que os diálogos não podem ser ditos por um ator, que os cenários não tem portas. E então voltam, colocam a cabeça no lugar e recomeçam, com página um, cena 1, INT. CASA – DIA, reaproveitando algumas coisas jogando fora outras, e com muitas idéia perdidas no meio daquelas páginas. É um método comum e muitas vezes funciona.


Algumas pessoas começam a desenvolver um texto, um “pré-argumento” onde e assim escrevem páginas e mais páginas onde a quantidade cria a qualidade, outros desenham, criam a planta baixa do cenario, outros falam com um gravador, descrevem personagens, escrevem cenas completas.


Todas essas formas são validas e bastante utilizadas. Porém autores tentam colocar um processo de trabalho, praticamente receitas. Coloco o processo que aprendi com Doc Comparato em suas aulas de roteiro. Passo a passo.

  • 5 linhas de Storyline que definam o conflito central da estória.
  • 1 pagina de sinopse onde você cita os personagens e conflitos da estória.
  • 10 a 15 páginas de argumento contando imageticamente sua história.
  • 60 a 100 cenas, faça uma escaleta separe o argumento em cenas e as coloque em ordem.
  • 90 a 120 páginas de ação, personagens, diálogos e rubricas e termine seu roteiro.


Parece ótimo e realmente funciona, mas não é tão simples assim. Seguir esse processo muitas vezes é como tentar passar uma manada de búfalos por um canudo.


Quando se tem uma idéia e se quer criar uma estória a partir dela é necessário criar um novo mundo, um mundo especifico e único, onde vivem os seus personagens, onde eles moram e o que eles fazem. Como autor é necessário controlar cada centímetro desse mundo e para isso é necessário conhecê-lo como ninguém.


O processo de por as primeiras idéias no papel é único para cada escritor, não cabe regras ou fórmulas. Esse é o momento em que o autor escreve para si, para que ele possa ler o que escreveu e assim desenvolver a sua estória.


No roteiro Desaparecidos no Silêncio foi necessário colocar as idéias no papel de forma jogada, o que me vinha à cabeça eu escrevia. Depois senti a necessidade de conhecer meus personagens, quem eles eram, tentei começar um argumento, mas parei, senti a necessidade de fazer uma escaleta e a fiz. Originalmente o roteiro era para ser de curta-metragem, mas no final da minha primeira escaleta eu já tinha mais de 30 cenas e então percebi que havia material para um longa-metragem.


No momento em que você colocou todas as suas idéias no papel e passou a conhecer um pouco mais sobre o mundo que você criou é muito válido voltar a receita, seja ela qual for, Doc, Syd, Bob, não importa, agora a questão é se organizar, juntar as idéias que estavam soltas em um papel e colocá-las em ordem para que você as compreenda, as desenvolva e conheça o mundo que você criou.


Aqui algumas imagens das primeiras notas do roteiro.


Obrigado a todos que estão seguindo o blog, comentem e vamos aprendendo juntos.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Novo link para o argumento

O link de rapidshare onde estava o argumento quebrou. Aqui vai novo link, hospedado no site roteirodecinema.com.br, do mestre Fernando Marés de Souza.

Mais uma coisa, aconselho a todos que leiam o comentário do post sobre Estória.

Obrigado a todos que estão acompanhando.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A IDEIA

O surgimento da ideia inicial é algo ainda inexplicável. Porém acredita-se que a ideia vem de uma necessidade natural do ser humano de responder a questões e perguntas que ele mesmo se impões. Ela se forma como um click, um estalar de dedos onde informações já guardadas em sua memoria se ligam a novas informações e assim transforma informações e conteúdos que vagavam na mente do ser humano em algo quase palpável.

Segundo Robert Mckee, o que diferencia um artista, ou ser de alta criatividade, de um ser humano que não possui essa criatividade é a capacidade de absorção de informações. Para ele, a vida de um artista é uma eterna pesquisa, tanto de informações, mas também uma pesquisa sensorial, de jeitos e trejeitos, em uma busca incansável de entender o ser humano.

Dentro de uma narrativa a ideia inicial se torna não a base, o chão onde se pisa, mas a tocha que o escritor segura e que vai iluminar o seu caminho e o processo de construção narrativa. Essa ideia é altamente mutável e flexível, se não for dessa forma, se a ideia se tornar rígida e imutável é como se a tocha se apagasse e o escritor voltasse a ser cego e parasse de perceber as nuances e inúmeras possibilidades que a própria estoria lhe oferece.

Essa ideia pode se apresentar de várias formas e cabe ao roteirista compreende-la. Ela pode surgir como uma pergunta a ser respondida, uma ideia literária, como uma frase de efeito ou um título ou também imageticamente, como uma cena, imagem ou algo do gênero.

Porém o roteirista muitas vezes não pode esperar para que um ideia surja para que ele possa desenvolver o seu roteiro. A profissão muitas vezes impões prazos e a necessidade de criação rápida. Para tanto o roteirista muitas vezes deve recorrer ao que Doc Comparato cita como os 6 campos de ideias.

-Ideias Selecionadas, são ideias que surgem de nossa memoria, de nossa vivência pessoal.

-Ideias Verbalizadas, são as que surgem quando nos contam algo.

-Ideias Lidas (for free), ideias que surgem quando lemos algo em jornais ou revistas ou ouvir no noticiário.

-Ideias Transformadas, são as que tiramos de outros livros, filmes, peças ou outras expressões artísticas.

-Ideia Proposta, é a ideia encomendada, quando um produtor tem uma ideia e contrata o roteirista para desenvolvê-la.

-Ideias procuradas, são as criadas para suprir uma demanda de mercado, vinda através de pesquisas de publico.

Porém a maioria das vezes é a união dessas varia fontes que formam a ideia.

Dentro do roteiro Desaparecidos no Silêncio, a ideia surgiu como ideia selecionada em união a Ideias Lidas e verbalizadas.

Era um momento em que os noticiários se enchiam com a noticia de uma menina que havia sido mantida como refém em casa por seu namorado, uma estoria com um final trágico, a mídia também relembrava o caso do ônibus 174 e outras passagens que envolviam sequestros e cárceres privados.

Ao mesmo tempo, minha família, uma família de classe média de uma cidade do interior de Santa Catarina passa por um momento difícil. Acostumada com uma vida pacata em uma cidade segura começou a ter que trancar as portas e colocar grades nas janelas, porque aquela cidade não era mais tão segura. E a ultima ameaça tomou forma em um adolescente que passou a invadir as casas da vizinhança e ameaçar com uma faca seus moradores. Eu estava sentado na sala de estar da casa dos meus pais enquanto meu pai me contava que esse adolescente já havia entrado na casa, em plena luz do dia, enquanto ela estava aberta. Nesse momento meu sobrinho que deveria ter pouco mais de dois anos de idade na época entrou na sala.

Esse momento uma cena se formou em minha cabeça, onde esse adolescente entrava em casa e ameaçava meu sobrinho com sua faca. Essa cena foi estalo, a fagulha inicial. Isso criou questionamentos que precisavam ser respondidos. Como eu reagiria a essa situação? Como os outros integrantes da minha família reagiriam? Meu pai me deu uma sua resposta de forma simples: - Eu daria uma surra nele. - E nesse momento as noticias que circulavam na mídia bateram a minha cabeça e criaram as perguntas que guiaram o inicio processo de criação do roteiro: Até onde uma resposta a violência sofrida diariamente, dada por uma classe média, neurótica e amedrontada poderia chegar? Qual o limiar entre defesa e ataque?

Mas será que simplesmente dar uma surra nele resolveria? Eu então procurei conhecer melhor a vida desse jovem que tanto amedrontava minha família. Conhecer seus motivos e razões para agir daquela forma. O que descobri nada mais é do que o reflexo de qualquer vitima de uma sociedade desigual. Uma família destruída, a pouca ação do estado no auxilio desse individuo, o uso de drogas, a pobreza a falta de uma meta de vida e principalmente a falta de amor e compreensão.

Nesse momento eu não tinha apenas uma ideia, mas sim um personagem, com uma história de vida, e uma cena em minha cabeça, uma ação feita por esse personagem. E com um personagem e uma ação temos mais do que uma ideia, temos uma Estória.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Que história é essa de Estoria

Primeiro uma pequena definição uma das palavras mais usadas nesse blog.


ESTORIA

Essa palavra não consta em dicionários da língua portuguesa e esta escrita fora de sua gramática normativa. Mas ela é assim escrita para diferenciar da palavra HISTÓRIA.


Defino com ESTORIA uma narrativa de ficção de qualquer tipo, contada oralmente, de forma escrita ou em imagens e HISTÓRIA como acontecimento histórico real.


A palavra vem do inglês Story, utilizada no mesmo sentido e que se diferencia de History. Acredita-se que a primeira aparição de ESTORIA na língua portuguesa vem de Guimarães Rosa que se utilizava desse conceito.



Obrigado a minha amiga Jaqueline pelo toque e informações.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Sobre o que é isso mesmo?

Acho que primeiro é necessário contar sobre o que estamos falando.


Esse é o primeiro argumento do roteiro Desaparecidos no Silêncio. Ele tem mais ou menos 5 páginas e conta basicamente a estoria do filme, ações, personagens.


Esse argumento ficou na suplência no edital de desenvolvimento de roteiros do MINC no anos de 2009, e a partir dele que o roteiro será desenvolvido.


É meio longo para se ler em um blog mas acho que é a melhor forma se você quiser compreender do que eu estou falando.


Postei o argumento em pdf no rapidshare.


Abraço a todos

O inicio

Nunca se deve começar uma Estoria sem antes saber o seu final.

Mas o blog não segue a mesma lógica. Não sei até onde ele vai, em algum ponto ele deve começar. E esse é o ponto...

Primeiro um breve explicação:

Esse blog foi criado como extensão do desenvolvimento de meu TCC para a Escola Superior Sul Americana de Cinema e TV.

Esse trabalho consiste em relatar o processo de desenvolvimento de um roteiro de longa-metragem para cinema a partir da sua ideia até o fim do primeiro tratamento e criar paralelos com as várias teorias sobre dramaturgia que existem hoje.

Para muitos algo bastante chato, eu sei, para outros nem tanto.

Espero realmente que esse blog possa ajudar a mim no desenvolvimento do trabalho e a todos que lerem pois vou humildemente tentar falar sobre a grande arte da dramaturgia para cinema.


Por enquanto é isso